No coração do Mato Grosso do Sul, onde o rio Ivinhema serpenteia entre matas e campos dourados, existe um lugar encantado chamado Vale do Ivinhema. Ali, muito antes das cidades, viviam os povos indígenas Guarani-Kaiowá, que conheciam os segredos da terra, do céu e das árvores.
Arami era uma menina Guarani-Kaiowá, curiosa e corajosa, que morava com sua avó numa aldeia próxima ao rio. Ela adorava ouvir as histórias contadas ao redor da fogueira, especialmente sobre uma árvore mágica: o ipê branco, que só florescia quando o mundo precisava de paz.
Certa noite, Arami sonhou com um velho pajé que dizia: “Quando o ipê branco florescer no Vale do Ivinhema, os corações vão se lembrar do caminho da paz.”
Na manhã seguinte, guiada pelo canto de um curiango, Arami subiu um morro escondido e encontrou o ipê branco, florido como nunca. Suas pétalas pareciam feitas de nuvem e brilhavam com a luz do sol.
Ela colheu uma flor e levou até sua aldeia. Quando os moradores tocaram a flor, sentiram uma calma profunda. As brigas cessaram, os cantos voltaram, e até os bichos da mata se aproximaram em silêncio.
A notícia se espalhou pelas aldeias do Vale do Ivinhema. As tribos vizinhas — Terena, Kadiwéu, Ofaié — vieram ver o ipê branco e, juntas, criaram a Festa das Pétalas da Paz. As crianças pintam o rosto com urucum, dançam com penas coloridas e cantam em guarani, lembrando que a paz começa com respeito e escuta.
Com o tempo, a história de Arami e do ipê branco chegou às cidades por meio de viajantes, professores e artistas que visitavam o Vale do Ivinhema. Um cineasta encantado com a lenda fez um documentário que viralizou nas redes sociais. A imagem do ipê branco florido se tornou símbolo de esperança em tempos de conflito.
Movimentos sociais, escolas e comunidades urbanas começaram a celebrar a Semana das Pétalas da Paz, inspirada na festa das aldeias. Crianças de diferentes culturas pintavam o rosto com cores da natureza, escreviam cartas de reconciliação e plantavam ipês em praças e parques como compromisso com o diálogo e o respeito.
O ipê branco passou a ser cultivado em escolas, hospitais, centros culturais e até em presídios, onde internos criaram jardins da paz como parte de programas de ressocialização. A flor virou estampa de camisetas, murais e campanhas educativas.
E dizem que, sempre que alguém planta um ipê branco com o coração aberto, Arami sorri em algum lugar do Vale do Ivinhema, sabendo que sua missão continua viva — agora não só entre os povos da floresta, mas em cada canto onde a paz é semeada.
Por Helena Zanchi

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