🌻 Por Helena Zanchi – Professora, Escritora e Cientista da Felicidade
Como professora e escritora em Ivinhema, vejo de perto os silêncios que habitam nossas escolas. Setembro Amarelo é mais do que uma campanha — é um convite à escuta, à empatia e à valorização da vida. Em tempos de ansiedade silenciosa e dores invisíveis, falar sobre saúde mental é um ato de coragem. E amar a vida, mesmo em meio ao caos, é um gesto revolucionário.
🕊️ Quando o silêncio pesa: o suicídio em Mato Grosso do Sul
Mato Grosso do Sul ocupa uma posição preocupante no cenário nacional. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, entre 2010 e 2020, o estado registrou quase 2.500 mortes por suicídio, com destaque para jovens entre 15 e 34 anos. O método mais comum foi o enforcamento (76%).
Em comunidades indígenas, especialmente entre os povos Guarani e Kaiowá, a taxa de suicídio ultrapassa 100 por 100 mil habitantes em alguns anos — número alarmante comparado à média nacional de cerca de 6 por 100 mil. Embora Ivinhema não esteja entre os municípios com maior incidência, a cidade compartilha os desafios da região: acesso limitado à saúde mental, estigma social e falta de espaços de escuta.
🌱 Psicologia Positiva e a Ciência da Felicidade: a esperança como ferramenta
A psicologia positiva, fundada por Martin Seligman, propõe uma abordagem que vai além da doença — ela foca no florescimento humano. Seligman afirma:
“A felicidade não é ausência de sofrimento, mas a capacidade de enfrentá-lo com resiliência.”
A partir dessa base, surge a ciência da felicidade, um campo interdisciplinar que estuda os fatores que promovem bem-estar duradouro. Ela não trata a felicidade como euforia passageira, mas como um estado construído por hábitos, conexões e propósito.
Tal Ben-Shahar, um dos principais nomes da área, ensina que:
“A felicidade sustentável vem da aceitação da imperfeição, da prática da gratidão e da busca por sentido.”
Essas práticas não substituem o cuidado clínico — são caminhos paralelos que fortalecem o cuidado profissional. E podem ser aplicadas em escolas, comunidades, famílias e ambientes de trabalho:
- Reconexão com valores pessoais
- Fortalecimento de vínculos afetivos
- Cultivo de emoções positivas, como esperança e compaixão
- Desenvolvimento de resiliência emocional e mental
🤝 E se a saída for o cuidado?
A prevenção do suicídio exige ação coletiva. Eis algumas estratégias eficazes:
- Educação emocional nas escolas: ensinar crianças e adolescentes a lidar com sentimentos e pedir ajuda.
- Capacitação de agentes comunitários: líderes religiosos, professores, profissionais da saúde e até comerciantes podem ser treinados para identificar sinais de risco.
- Espaços de escuta ativa: rodas de conversa, grupos de apoio e canais anônimos de acolhimento.
- Políticas públicas inclusivas: garantir acesso à saúde mental, especialmente em comunidades vulneráveis.
🌻 O papel dos agentes sociais
Agentes sociais são pontes entre o sofrimento e o cuidado. Eles podem:
- Promover campanhas de valorização da vida com linguagem acessível e sensível à cultura local.
- Articular redes de apoio entre escolas, postos de saúde e ONGs.
- Incentivar práticas de autocuidado, espiritualidade e conexão comunitária.
- Criar espaços seguros para escuta ativa, sem julgamento, onde o sofrimento possa ser acolhido com humanidade.
Em Ivinhema, isso pode significar mobilizar lideranças locais, fortalecer o CAPS, envolver igrejas, escolas e até pequenos empreendedores em ações de acolhimento e prevenção.
💛 Amar a vida é um ato revolucionário
Setembro Amarelo nos lembra que viver é resistir. Que todos enfrentam sombras, mas há luz. Que há saída. Que há amor.
Falar sobre suicídio é falar sobre esperança. É construir pontes, abrir janelas, estender mãos. É dizer, com firmeza e ternura: você importa.
Se cada um de nós for um agente de escuta, de cuidado e de presença, podemos transformar dor em propósito — e salvar vidas.
Fontes consultadas:
- Secretaria Estadual de Saúde de MS – Relatório de Prevenção ao Suicídio (2021)
- Ministério da Saúde / DATASUS – Sistema de Informações sobre Mortalidade
- Revista Brasileira de Epidemiologia – Estudo sobre suicídio entre povos indígenas
- Martin Seligman – Authentic Happiness (2002)
- Mihaly Csikszentmihalyi – Flow: The Psychology of Optimal Experience (1990)
- Tal Ben-Shahar – Happier: Learn the Secrets to Daily Joy and Lasting Fulfillment (2007)

Cada palavra aqui foi escrita com alma. Que este espaço seja abrigo para quem precisa de escuta, inspiração e coragem. Que as vozes que ecoam em cada texto encontrem corações abertos. Gratidão por estar aqui — você importa.
ResponderExcluir– HZanchi